O ângulo, a câmera, a pose, a luz, o filtro, tudo perfeito para a disposição de uma foto espontânea… Um processo que explicita o desmanchar das propostas iniciais das principais redes sociais, com o maior número de usuários ativos, também expõe as contradições que a sociedade produz.
Uma sociedade que sobe em palcos tão ideais, mas a mesma sofre, e sem perspectiva de melhoria, com uma série de inseguranças acerca desta exposição ou da possibilidade desta.
O que deveriam ser estilhaços espontâneos de um quadro diário e pessoal agora rivaliza com a performance de apresentadores de televisão, tanto pela a possibilidade dos “recebidos”, nome que se refere a presentes que marcas enviam para influenciadores digitais, quanto pela adequação a um formato delimitado por uma série de sujeitos alheios para aquele que se expõe. Um distanciamento de sua própria imagem que segue a afirmação de Byung-Chul Han “A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho”, em sua notável obra “sociedade do cansaço”, um desempenho de si mesmo, gestando sua própria imagem ao ponto de se assemelhar aos espaços instagramáveis criados por empresas.
Espaços instagramáveis são uma tendência criada no fim da última década, em que empresas criam dentro do seu espaço de trabalho um ambiente para atrair aumentar o engajamento do seu perfil nas redes sociais, os trabalhadores descansam ali, mas por fim devem compartilhar para sua comunidade virtual aquilo faz parte de sua experiência de trabalho.
Um espaço delimitado para performar exclusivamente nas redes sociais não é diferente do planejamento pessoal apresentado no início do texto. Uma projeção online, quase terceirizando o relacionamento para esse espaço tão fragmentado, também retorna para a citação do ensaísta sul-coreano, que pensa um desempenho de engajamento para o que se vive.
Essas sobreposições apresentam a possibilidade das constantes inseguranças dos usuários partirem da busca de algum registro instagramável, a frustração de não fazê-lo ou a projeção para o mesmo. Uma série de sobrecargas para afetos que existem independente dessa dependência.
Nesse processo os usuários reconhecem o algoritmo como parte das relações, sem conseguir imaginar se pode experienciar algo distante do engajamento, assim como as empresas também o reconhecem quando constroem esses espaços instagramáveis. Uma organização para o espetáculo de si.
Referências:
Han, Byung-Chul. Sociedade do cansaço, pg. 14. Editora vozes, 2015.
Autor: Lucas Araujo dos Santos Barbosa
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